Reila Taline Saraiva de Jesus, neste artigo, pretende mostrar para você que essas verdades não condizem com toda a verdade acerca do SUS, e que tem muito mais pontos positivos a serem exaltados do que as pontuais, apesar de muito relevantes, falhas no sistema.

“O SUS é muito presente e fundamental como direito de todo brasileiro. Ele é responsável por muito mais que o atendimento médico e os leitos hospitalares.”
O lado oculto da Lua
Você chega em casa cansado do trabalho, liga a TV e aparece uma reportagem com um homem berrando que sua mulher teve que dar à luz na porta do Hospital, pois se negaram a atendê-la.
No dia seguinte, faz um café e senta-se para ler os jornais e se depara com uma reportagem de capa: Fila da morte — a angústia dos familiares das mais de 300 pessoas que aguardam por uma vaga de CTI na rede pública do Estado.
Sai pra trabalhar e chegando lá se lamenta com seu colega sobre o desânimo provocado por essas notícias, ao que ele prontamente responde:
– Por isso que eu pago plano de saúde! É caro, mas é necessário. Não dá pra contar com o SUS!
Se identificou com alguma dessas situações? Pois é! Esse é apenas um recorte de como a mídia cria uma percepção negativa acerca do SUS e como nós somos tragados para essa narrativa.
Este artigo pretende mostrar para você que essas verdades não condizem com toda a verdade acerca do SUS, e que tem muito mais pontos positivos a serem exaltados do que as pontuais, apesar de muito relevantes, falhas no sistema.
Duas faces da mesma moeda
Com pouco mais de 30 anos desde a sua criação, o SUS já demonstrou sua potência e importância como Sistema de Saúde público, democrático e universal, oferecendo promoção, prevenção e atenção à saúde e sendo responsável por programas pioneiros e campanhas bem sucedidas, referências para todo o mundo.
Porém, nem todos os brasileiros entendem a complexidade, a importância e a abrangência do SUS. Garantir uma saúde pública, universal e de qualidade, num país de dimensão continental, com mais de 200 milhões de habitantes (IBGE, 2020) é um desafio que requer aprimoramento contínuo; e a mídia, por interesses outros diversos, prefere se utilizar dos problemas para gerar manchetes, ao invés de divulgar todos os acertos e conquistas dos últimos 30 anos.
Vários pesquisadores se debruçaram em analisar as percepções acerca do SUS, quer pelos usuários, quer pela mídia. Castro et al., numa pesquisa de 2006, avaliou que, em relação ao tratamento ou atendimento recebido, a satisfação é superior aos 80% para todos os tipos de unidade (hospitais, clínicas ou postos de saúde). A doutoranda da FIOCRUZ, Izamara Bastos, em live realizada no dia 25 de Março de 2021 e disponibilizada no canal do YouTube do CiteLab, afirma que a mídia tem responsabilidade na construção de uma imagem negativa do SUS, mas os embates narrativos reverberam nos jornais, que são instituições vinculadas a interesses privados, e que cabe ao consumidor tentar entender os dados recebidos, lembrando que “o SUS é processo; ele está em processo; ele está sendo construído, é muito recente!”, pontua a pesquisadora.
Apesar da propaganda negativa do SUS e do crescimento do número de usuários da saúde suplementar no Brasil, dados recentes mostram que o SUS ainda é responsável por quase 70% das internações hospitalares nas principais capitais do Brasil (Gráfico 1), locais onde a oferta de serviços de saúde suplementar é muito alta.

Gráfico 1 — Fontes de pagamento das últimas internações referidas em inquéritos de saúde realizados nos 12 meses anteriores à data em questão.
Fontes: PNAD 1981, PNAD 1998, PNAD 2003, PNAD 2008 e PNS 2013
Um afago no gigante
O SUS é muito presente e fundamental como direito de todo brasileiro. Ele é responsável por muito mais que o atendimento médico e os leitos hospitalares. O saneamento básico, a vigilância sanitária, as campanhas antitabagismo, a distribuição gratuita de determinados medicamentos, o controle de qualidade da nossa comida, a vacinação em massa, entre outros, são apenas algumas das atribuições do SUS, das quais todos somos usuários, direta ou indiretamente. E aí, continua achando que o SUS é tudo de negativo que a mídia veicula, ou vai reservar um tempo para exaltar o SUS ainda hoje?
Referências
1 Castro, H. C. de O. de, Machado, L. Z., Walter, M. I. M. T., Ranincheski, S. M., Schmidt, B. V., Marinho, D. N. C., & Campos, T. M. de A. (2012). A Satisfação dos Usuários com o Sistema Único de Saúde (SUS). Sociedade Em Debate, 14(2), 113–134.
2 Viacava, Francisco et al. SUS: oferta, acesso e utilização de serviços de saúde nos últimos 30 anos. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2018, v. 23, n.6., pp. 1751–1762.
3 MACHADO, Izamara Bastos. Sentidos ao longo do tempo: as narrativas midiáticas sobre o Sistema Único de Saúde produzidas em diferentes temporalidades. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE, 8., 2019, João Pessoa. Anais… João Pessoa: ABRASCO, 2019. 2 p.
4 MACHADO, Izamara Bastos et al. Percepções sobre o SUS: o que a mídia mostra e o revelado em pesquisa. 2011.
5 SANTOS, Nelson Rodrigues dos. SUS 30 anos: o início, a caminhada e o rumo. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1729–1736, 2018.
6 https://www.unasus.gov.br/noticia/brasil-recebe-premio-internacional-pelo-controle-ao-tabagismo . Acessado em 30 de Abril de 2021
7 https://www.unasus.gov.br/noticia/opas-reconhece-telessaude-como-referencia-mundial. Acessado em 30 de Abril de 2021.
8 https://www.unasus.gov.br/noticia/no-dia-mundial-de-luta-contra-aids-fiocruz-bate-recorde-de-producao-de-antirretrovirais . Acessado em 01 de Maio de 2021.
9 https://www.unasus.gov.br/noticia/diretora-geral-da-oms-elogia-transparencia-e-empenho-do-governo-brasileiro-no-combate-ao . Acessado em 01 de Maio de 2021.
Trabalho final realizado como parte da disciplina Mídia e Saúde, oferecida pela professora Thaiane Oliveira, no curso de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense, junto ao Seminário Mídia e Ciência, organizado pelo CiteLab e Nechs