Por: Gabriel Irineu e Paula Gonçalves

“… é relevante a participação ativa desse grupo de pessoas que têm tanta influência nas mídias digitais. Também nos mostra como é complexa a relação entre influenciador, influenciado e internet. “

No fim do ano de 2019, o mundo foi marcado pelo surgimento de uma doença até então desconhecida, que viria a dominar noticiários mundo afora e afetar o cotidiano de milhões de pessoas. Hoje, mais de um ano depois da declaração oficial da Organização Mundial da Saúde de que o mundo estava oficialmente em pandemia, precisamos nos adaptar de diferentes formas ao “novo normal”. Eventos passaram a ser predominantemente digitais, aglomerações continuam proibidas na maior parte do mundo e as relações interpessoais passaram a ser mediadas quase sempre por meio de telas.

Em levantamento publicado em junho de 2020, a plataforma App Annie registrou um aumento de 40% do tempo de tela de usuários de aplicativos móveis. Também foi levantado que empresas do ramo, como Apple e Google, faturaram entre 15 e 25% a mais que o normal de seus usuários e que os campeões de downloads nas plataformas foram os jogos de mobile e aplicativos de entretenimento para aproveitar o tempo em casa.

No entanto, como em toda situação adversa e de difícil explicação, desde o começo foi possível ver teorias de caráter conspiratório acerca da origem do Coronavírus e suas formas de tratamento. É aí que entram os influenciadores digitais.

Em alta, a profissão é uma das mais promissoras do momento e tem agitado setores de marketing de diversas áreas, inclusive na da saúde. De acordo com a jornalista do Ministério da Saúde, Pâmela Pinto, em live realizada no dia 04 de março e disponível no canal do YouTube do CiteLab, a voz dos influenciadores digitais no momento em que vivemos se mostra de importância muito maior do que pensamos: “O Whindersson (Nunes) é um grande influenciador, tanto que ele fez uma mobilização muito rápida por oxigênio no Amazonas. O Cristiano Ronaldo fez um post pedindo para que seguissem a OMS, esse post teve um alcance mundial 37 vezes maior do que qualquer outro que a OMS já tenha feito. É muito relevante essa participação”.

No entanto, nem toda influência é positiva. Em abril de 2020, poucas semanas após vários municípios brasileiros adotarem medidas de restrição de pessoas, a influenciadora Gabriela Pugliesi (35) postou uma série de stories onde aparecia embriagada com alguns amigos em casa e música alta. A blogueira fitness, que vende um estilo de vida saudável e natural, repleto de positividade, já havia sido notícia semanas antes por ser responsável diretamente por uma festa de casamento que acabou contaminando várias pessoas com o vírus. Gabriela ainda fez publicações agradecendo à pandemia por “ter vindo para que as pessoas possam ver o lado bom da vida”.

À época, o Brasil batia a marca de aproximadamente 200 mortes diárias por Covid, fazendo com que as postagens de Gabriela fossem interpretadas como controversas e gerando indignação nas redes sociais, o que a fez deletar todos os seus perfis, retornando após alguns meses e um pedido de desculpas.

Atualmente, com mais de 3000 mortes diárias pelo vírus no Brasil, outros influenciadores e ex-BBBs têm se tornado alvo de críticas por provocarem aglomerações para gravar vídeos de danças e humor. “Você passa por dois segundos na tela do seu celular e vê alguém da sua faixa etária, alguém que você admira, alguém que você tem respeito transmitindo uma mensagem chave. Isso vai te impactar”, ressalta Pâmela Pinto sobre o poder de influência de alguns perfis online.

Outros casos interessantes são os de cientistas influenciadores. Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, faz vídeos para o TikTok explicando detalhes e dúvidas comuns sobre vacinas, prevenção e informações gerais sobre o Coronavírus, alcançando mais de 23 mil seguidores na plataforma.

Tanto os exemplos positivos quanto os negativos relacionados às influências de influenciadores digitais durante a quarentena nos ilustram bem de como é poderosa a relação dessas pessoas com seu público. Esse poder parece muito consciente em alguns desses influencers, enquanto em outros nem tanto. Rixas entre pessoas de muita relevância digital estão acontecendo a partir do momento em que uns se abstém do dever de conscientizar seus seguidores e outros fazem movimentos a fim de cobrar por essa conscientização e posicionamento. O maior exemplo de influenciador que cobra por posicionamento de outros do mesmo ramo é Felipe Neto, que por esse motivo hoje é um dos mais atacados pela sua “oposição”. Quando esse tipo de embate acontece, a própria população se divide e isso torna o combate contra esse momento pandêmico muito mais difícil.

Todos os casos listados neste texto nos evidenciam o quanto é relevante a participação ativa desse grupo de pessoas que têm tanta influência nas mídias digitais. Também nos mostra como é complexa a relação entre influenciador, influenciado e internet. No fim, buscamos estudar um pouco sobre essas complexidades e formas de uso dessa persuasão digital, pois acreditamos que muito do que está acontecendo no nosso país durante a pandemia do COVID-19, tem relação com isso.

Trabalho final da disciplina Mídia e Saúde oferecida para a graduação em Estudos de Mídia da UFF, integrado ao Seminário Mídia e Ciência, transmitido no canal do YouTube do CiteLab: https://www.youtube.com/c/CiteLabUFF

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